domingo, 29 de agosto de 2010

Até Breve e Obrigado José Lopes

Carta de José Lopes
Ás associações, colectividades e diferentes instituições…

Suspensão de colaboração jornalística

A todas as associações, colectividades e diferentes entidades e instituições de âmbito, autárquico, cultural ou desportivo, gostaria de informar que suspendi a minha colaboração jornalística na edição n.º 505 do Praça Pública (18/08/2010) após uma profunda reflexão sobre a acumulação de responsabilidades partidárias e autárquicas como deputado municipal do BE na Assembleia Municipal de Ovar. Conclusão que pesou decididamente para justificar a suspensão de colaboração tal como vinha há muitos anos exercendo activa e civicamente.
Sem negar que ao longo de quase duas décadas, protagonizei polémicas que naturalmente deram origem a diferentes apreciações, tenho profunda convicção que valeu e vale a pena este tipo de postura, que procurei seguir na área do jornalismo, não sendo jornalista. Uma intervenção essencialmente cívica, que me deixa de consciência tranquila e com a firme convicção que contribui para dar voz a quem não tinha voz.
Guardo com carinho, tantos as polémicas, os males entendidos ou as criticas ao trabalho que fui desenvolvendo, mas também e fundamentalmente a divulgação do trabalho desportivo, cultural e ambiental, promovido e assumido por tanta gente anónima que dá corpo e vida a associações e colectividades, que fomentam o folclore, a música, o teatro, a dança, o canto, as artes em geral, a defesa do ambiente, o desenvolvimento desportivo nas várias modalidades. Sobre todas estas áreas, incluindo as sociais e políticas, tive o privilégio de me pronunciar, certamente, não de forma verdadeiramente jornalística, mas com paixão e respeito pelo trabalho nem sempre verdadeiramente apoiado por quem o deveria e deve fazer oficialmente.
Foram muitas as polémicas em que fui acusado exactamente da falta de ética jornalística, de não ouvir as duas partes, ao que sempre contrapus, refugiando-me exactamente no facto de não ser jornalista e sobretudo, de defender que mesmo os jornalistas devem ter opinião. E foi nesta lógica que muitos textos inquietaram consciências e enfrentaram situacionismos e poderes instalados, que guardo com saudade e convicção que só desta forma teve sentido a minha colaboração na imprensa.
Tal como o fiz também para com os jornalistas profissionais ou simples colaboradores como eu, com quem tive o grato privilégio de partilhar uma vivência jornalística de quase duas décadas, a quem manifesto a minha profunda gratidão, por me terem aceite no seio da “tribo” de jornalistas com quem fui trabalhando em diferentes projectos ou simplesmente com quem me fui cruzando fraternal e solidariamente em vários momentos desta actividade, porque me apaixonei, ainda que limitado em termos de escolaridade. Gostaria igualmente de agradecer a colaboração e a disponibilidade manifestada por muitas das entidades com que contactei para cumprir o meu papel a que chamavam de jornalista, na divulgação das respectivas actividades, iniciativas ou eventos.
Permitam-me pois partilhar, que esta aventura começou em 1992 no “Região de Aveiro” dirigido por Arménio Bajouca, durante quase dois anos. Em 1994 iniciava o contacto com o Jornal de Ovar através de cartas ao director tal como na altura vinha mandando para Jornal de Noticias ou Diário de Aveiro, até que em 1995 passei a integrar como colaborador a ficha técnica e mais tarde, em 2001 o corpo redactorial deste jornal, fazendo parte de sucessivas equipas que se foram reformulando até à suspensão final do Jornal de Ovar em 23/01/2009. Durante quase uma década, tive chefes de redacção como: Manuela Morgado; José Gonçalves; Nelson Pinto; Luís Ventura; Paulo Silva; Célia Nunes e Rui Castro.
Ainda no Jornal de Ovar, em que conheci a actual jornalista do Público, Sandra Costa, trabalhei com Manuel Barbosa, Sara Correia, Rui Gomes Oliveira, Joaquim Castro, António Valente Cardoso, Vitorino Matos, Cátia Alves da Silva, José António Martins, entre tantos outros nomes de companheiros de viagem (colaboradores e colunistas) como: Alberto Sousa Lamy; José Mendes; Vítor Amaral; Paulo Farinhas; Carlos Baldaia; Paulo Dias; António José Tavares; Mário Rui Natária; Aníbal Gomes; Ricardo Nunes; António Mendes Pinto; Orlando Caió; Mário Carapinha; Florindo Pinto; Álvaro Reis; Joaquim Margarido ou Manuel Ferreira Gomes. Mas recordo também com muita amizade, os nomes das paginadoras, ainda no Jornal de Ovar, Isabel Santos e Vera Cardoso e mais tarde, Tiago Cunha, ou os directores, José Lemos Pinto, José Manuel Tavares, Fernando Assunção, Manuel Oliveira Dias e por fim Madalena de Lima.
No Jornal da Ria como colaborador entre 2003 e 2004, conheci ainda, Carmen Martins e Andreia Tavares e trabalhei com Manuel Firmino, director deste semanário do qual era proprietário tal como do Jornal de Ovar.
A mais recente experiencia jornalística partilhei-a no Praça Pública entre 2009 e 2010 com Dinis Amaral (chefe de redacção), Sofia Stoffel (directora) e na equipa da redacção, com Fernando Souteiro, Bárbara Silva e Susana Silva. Mais recentemente ainda com Sandrine Oliveira. No Praça fui ainda encontrar a jornalista Sandra Marques (ex.chefe de redacção), que anos antes me tinha cruzado com ela ao serviço do então Tribuna Press. Do Praça Pública recordo com amizade a jornalista Carla Azevedo, com quem tive o privilégio de conversar muito durante o trabalho de coberturas das diferentes iniciativas, eventos e acontecimentos, ela para o Praça e eu para o Jornal de Ovar.

Independentemente da situação profissional ou da formação na área da comunicação social, em que estava em desvantagem, reconheço que foi com enorme simpatia que fui aceite entre o convívio com tantos outros jornalistas, como, Natacha Palma (JN) Sara Oliveira (Público), Lúcia Lima (ex.Tribuna Press), Francisco Manuel (ex.Comércio do Porto), Fernando Pinto (free lancer) colaborador do João Semana, tantas vezes representado pelo padre Manuel Pires Bastos ou do incansável Paulo Santos (colaborador da Rádio Antena Vareira), Patricia Pinto (Praça Pública), Tânia Oliveira e Joana Mafalda (ex.Tribuna Press), entre tantos outros nomes de colaboradores, colunistas e jornalistas estagiários nestes projectos da imprensa regional e local a que me dediquei entusiasticamente até esta decisão de suspensão de colaboração.
Foi pois um grande prazer ter tido oportunidade de poder contribuir nas páginas da imprensa, para divulgar, denunciar, alertar, sensibilizar, intervir, opinar, analisar várias áreas da sociedade ovarense, da política, da cultura, do património, do ambiente, do desporto ou do campo social. Intervenção cívica que naturalmente não abdico, mas agora, assumidamente sem recurso ao espaço na imprensa tal como vinha trabalhando semanalmente, que durante anos me foi facultado, sem que nunca tivesse tido necessidade de esconder ou negar as minhas convicções e orientações politicas e ideológicas. Confronto de ideias também no seio da imprensa que a certa altura “prosperou” numa concorrência objectivamente de correntes políticas, como aconteceu ao longo da história da imprensa local em Ovar, que despertou interesse nos leitores e tantas vezes incomodo para os poderes instituídos.
Sem nunca abandonar o igualmente “bichinho” de enviar cartas de leitor para vários órgãos de comunicação, relação específica que certamente me manterá de certa forma activo na escrita. Esta foi uma outra vertente da minha intervenção na área da imprensa, alargando-se entretanto à imprensa digital também.
Ao fim de toda esta jornada de intervenção essencialmente cívica, resta-me agradecer a relação de amizade que no essencial se construiu, particularmente nas várias equipas redactoriais que me deram o privilégio de integrar. Relação que certamente se sobrepõe às inevitáveis desilusões e frustrações também inevitáveis na vida e nas relações interpessoais.
Despeço-me até um outro dia, de consciência tranquila e sem arrependimentos, convicto sim, de que a nossa voz só se cala quando nos acobardar-mos perante o cinismo, a hipocrisia, a chantagem ou a pressão de quem quer caminho livre de incómodos, de vozes livres e democráticas, para mais facilmente poder dividir e reinar perante silêncios comprometedores.

Assim, a todos, mesmo a todos, um grande abraço

20/08/2010

José Lopes
(CO-356)